Introdução
Afinal, é filmmaker ou videomaker?
A era digital transformou significativamente a indústria cinematográfica, desafiando conceitos arraigados e redefinindo o papel dos profissionais do setor. Um dos debates mais acalorados atualmente é a distinção entre “filmmakers” e “videomakers”. E creio que encontrei uma solução, com uma prova baseada na literatura do cinema, e em um livro especifico, importante base teórica para o cinema.
Com a quase extinção do uso de filme (película) em 99% das produções, como, por exemplo, as produções que uma agência, ou um videomaker comum está acostumado: filmagem de conteúdo, vídeo institucional para empresas, casamentos, aniversários de 15 anos, lojas, e em todos os casos os videomakers utilizam câmeras de vídeo cada vez mais modernas, e gravam em um cartão SD, ou em um SSD. Mas em mídia digital.
As câmeras que utilizam o filme, como as lendárias Panavision e Arri, só são usadas em casos excepcionais como Hollywood, surge a questão: ainda existem filmmakers ou agora todos são videomakers?
Este artigo refuta a ideia da existência contínua de filmmakers, defendendo que, na prática, hoje só existem videomakers mesmo. E que o nome Filmmaker é mais bonito mesmo, mas não é o nome mais adequado. E pronto uai.
Resumindo: se não há mais câmera de filme, digo as analógicas mesmo, então não há mais o filmmaker, e sim o videomaker. Pois ele não edita filmes de película, e sim arquivos de vídeo extraídos do cartão SD de sua câmera digital.
A Transformação Digital no Cinema
O cinema, desde suas origens, foi marcado pelo uso de película. No entanto, a revolução digital iniciada no final do século XX e consolidada no início do século XXI transformou radicalmente a maneira como filmes são produzidos.
Com o advento das câmeras digitais, a produção cinematográfica tornou-se mais acessível e democrática. Segundo Bordwell e Thompson (2013), “a digitalização permitiu uma flexibilização nos processos de produção e edição, transformando a dinâmica da indústria cinematográfica” (p. 45).

A Queda do Filme e o Surgimento do Videomaker
Historicamente, o termo “filmmaker” era usado para descrever aqueles que trabalhavam com película. Porém, com a queda do uso de filme, exceto em produções de grande escala como em Hollywood, a prática de filmagem em película tornou-se quase obsoleta.
Daí a dúvida: é filmmaker ou videomaker? De acordo com Prince (2011), “a transição do filme para o digital foi uma mudança paradigmática que alterou a própria natureza do fazer cinematográfico” (p. 78). Com isso, o termo “videomaker” emergiu como a descrição mais precisa dos profissionais que produzem vídeos digitais.
A Realidade das Produções Contemporâneas
Na prática, a maioria dos cineastas hoje trabalha exclusivamente com meios digitais. Este fato é evidente não apenas em produções independentes e de baixo orçamento, mas também em grandes estúdios que, apesar de terem recursos para trabalhar com filme, frequentemente optam pelo digital devido à praticidade e ao custo reduzido.
Em uma entrevista, o cineasta Steven Soderbergh destacou: “o digital oferece uma flexibilidade e um controle que a película simplesmente não consegue igualar” (SODERBERGH, 2018, p. 23).
Exceções à Regra: Hollywood e a Nostalgia da Película
Embora a película tenha caído em desuso, algumas exceções notáveis permanecem. Diretores de renome como Christopher Nolan e Quentin Tarantino são conhecidos por sua preferência pela película.
Nolan, por exemplo, argumenta que “o filme tem uma qualidade tangível e uma profundidade que o digital não pode replicar” (NOLAN, 2015, p. 36). No entanto, essas escolhas são impulsionadas mais por questões estéticas e pessoais do que por necessidades práticas ou econômicas.
Atualmente, é filmmaker ou videomaker? O Novo Profissional do Cinema
Com a predominância do digital, o papel do videomaker tornou-se central na produção audiovisual. Esse profissional não apenas captura e edita vídeos, mas também compreende profundamente os aspectos técnicos e artísticos do meio digital.
Segundo Jenkins (2006), “o videomaker é um produto da convergência midiática, capaz de navegar entre diferentes plataformas e tecnologias” (p. 102).

A Educação e Formação dos Videomakers
Os programas de ensino em cinema e audiovisual também refletem essa mudança. Hoje, as universidades e escolas de cinema concentram-se majoritariamente na formação de videomakers.
Os currículos enfatizam o domínio das tecnologias digitais, edição não-linear, e técnicas de produção que aproveitam as vantagens do meio digital. Como apontam Bacher e Lawton (2009), “a formação de videomakers é essencial para preparar profissionais que estejam aptos a lidar com as demandas contemporâneas da indústria audiovisual” (p. 119).
Leia também este artigo, que trata do uso da inteligência artificial na educação. Clique aqui.
O Futuro do Cinema Digital
O futuro do cinema está inexoravelmente ligado ao digital. Com o avanço constante das tecnologias, espera-se que a qualidade e as capacidades das câmeras digitais continuem a melhorar, ampliando ainda mais a distância entre o digital e a película.
Filmes como “Avatar” de James Cameron demonstram o potencial do cinema digital para criar mundos completamente novos e experiências visuais imersivas (CAMERON, 2009, p. 52).
Os videomakers adoram uma lente retrô, uma lente manual com um bokeh maravilhoso. Também, vários fotógrafos, por puro preciosismo, ainda trabalham com as câmeras analógicas.
Mas não existe mais um profissional “filmmaker raiz”, ou seja, o cara que filma de câmera de rolo de filme, e que mete aquele rolo para fazer a decupagem, a montagem, de forma analógica, como era antigamente.
Entendeu a etmologia da palavra, e os motivos pelo qual podemos considerar que, aos olhos da teoria do cinema e seus autores, o filmmaker não existe?
Ah, sim, ainda se fabricam câmeras analógicas no mercado!
Conclusão
A ideia de que ainda existem filmmakers no sentido tradicional é uma concepção ultrapassada. O cinema, como conhecemos, evoluiu e, com ele, o papel dos profissionais que o fazem. Hoje, o termo videomaker é mais adequado à realidade, pelos motivos que mencionei.
Enquanto alguns diretores- em grandes produções – continuam a usar película por razões nostálgicas ou estéticas, a verdade é que o futuro do cinema é digital, e os videomakers são os protagonistas dessa nova era, em que uma pequena câmera digital é capaz de proporcionar qualidade semelhante às câmeras de rolo antigas.
Mas, na verdade, na verdade mesmo, tanto faz você usar o termo filmmaker ou videomaker. Todo mundo vai saber com o que você trabalha!
Referências Bibliográficas
BACHER, L.; LAWTON, B. The New Digital Filmmaker. New York: Routledge, 2009.
BORDWELL, D.; THOMPSON, K. Film Art: An Introduction. 10. ed. New York: McGraw-Hill, 2013.
CAMERON, J. Avatar: The Digital Revolution. Los Angeles: Lightstorm Entertainment, 2009.
JENKINS, H. Convergence Culture: Where Old and New Media Collide. New York: NYU Press, 2006.
NOLAN, C. The Art of Film in a Digital Age. Los Angeles: Syncopy, 2015.
PRINCE, S. Digital Cinema: The Transformation of Film Practice and Aesthetics. New Brunswick: Rutgers University Press, 2011.
SODERBERGH, S. Conversations with Filmmakers. New York: Columbia University Press, 2018.